Domingo de agosto, 10 e meia da manhã, um calor português. A auto-avenida de Madrid a Guadarrama está deserta. “- e quase que eu passo o desvio. Na estrada pro Escorial há uma fila de carros parados. Mas se vão para onde irei eu! Em cima, um menor cartaz: Valle de los Caídos. Na frente, um Porsche branco.
Ao retirado, uma guarita. Abro a janela pra sentir o cheiro dos pinheiros vivos. Ia entrar lírica, enfática, atômica, contudo me sujeito ao se relembrar de um recente artigo do escritor Manuel Vilas Do País. Este parágrafo úmido: “irei para o túmulo de Franco e a percorrer com convicção. Debaixo dos meus pés está o horror, o crime, a miséria, a humilhação. Andar e andar com mais potência. Sob os meus pés é nada. Sob os meus pés é também o responsável pela aflição de milhares e milhares de mortos que jazem nesse lugar por tua torcida desejo.
Continuo a um passo da sepultura. Eu desejaria de surgir com meus pés até teu crânio e fazê-lo explodir em quarenta e seis milhões de gotas de água”. O Vale dos Caídos, há que entrar desprovido de narcisismo e adjetivos. Observar. Apontar. Um pouco mais. Os minutos passam. Um homem se impacienta. Ele sai do automóvel e se dirige à trilhos a perguntar o que se passa. Torna. Agora sou eu que lhe pergunta. É um habitué do Vale e da igreja.
- 2006: Uma rebelde solo
- 1996 – A Tocada. Especial (Conduzido por Verónica Castro)
- De Janeiro a Janeiro / Nossa Canção
- 1993: Seven Days Live
“Nada. É o controle de entrada. Os turistas, por um lado. Penso exatamente o mesmo que você em absolutamente tudo”. A loira ri, neste momento de si mesma, e dá-lhe as graças. O Porsche si muove. A trajetória avança curva para cima.
Desde que vi O brilho da montanha eu adoro o direito. Sigo as indicações pra basílica e, esquecendo-se que pela mala levo ameixas e pêssegos, aparco a pleno sol. Subo as escadas até a esplanada. Aí estão a cruz, que cruz, arcos, escudos e a wannabe pietá. Clique, clique, clique. O povo vai chegando, de forma lenta e ordenada, como os que vão à missa, que é para onde irão. A uma missa conventual cantada, pra ser mais preciso. Uma das últimas concelebradas pelos ossos de Franco. Me cuelo entre os paroquianos e coleta de fragmentos de tuas discussões. Os nomes de Sapateiro e Sánchez. Alusões ao que se considerou ontem à noite na Sexta e outra amanhã, no Sbt.
Que desonra. E quando você diz que o exumam? Em agosto. Já, já! A televisão faz o negócio com a política barata. Mas lá vamos nós, e vemos, e nos enzarzamos, e pontificamos. Até já a respeito da memória e a morte. Na entrada da basílica, maneira-se outra fila.